Resumo No presente artigo argumento que o feminismo de(s)colonial pode ser entendido como um feminismo subalterno, inclusive na trajetória dos feminismos latino-americanos. Ao mobilizar um discurso crítico à modernidade e à colonialidade, inclusive dentro do próprio movimento feminista, o feminismo de(s)colonial se insere em uma história mais ampla do feminismo terceiro-mundista que antecipou aquilo que chamo de paradoxo da representação feminista. Sugiro que o debate feminista de(s)colonial seja compreendido em sua complexidade teórica e prática, argumentando que sua novidade e distinção reside na construção e na articulação da ideia de descolonização como utopia política de diferentes feminismos subalternos latino-americanos nas duas últimas décadas.
Atualmente, observam-se diferentes processos de desdemocratização e autocratização em âmbito global, regional e nacional, os quais colocam um urgente desafio analítico e normativo à disciplina da Ciência Política. O presente artigo observa a importância da introdução da questão neoliberal no debate disciplinar sobre a democracia e sua crise na contemporaneidade, entendendo o neoliberalismo como força desdemocratizante, já há décadas observada nos países latino-americanos. São debatidas as potencialidades e os limites para a aplicação do conceito "pós-democrático" no contexto das democracias situadas no sul global, já que ele carrega um anglo-eurocentrismo metodológico e um liberalismo ideológico particulares às realidades norte-americana e europeia. A ideia de um Brasil pós-democrático é aventada em um exercício interpretativo que adverte para os cuidados da importação teórica não contextualizada histórica e geopoliticamente.
O objetivo principal do artigo é o de apresentar a trajetória e o pensamento do Grupo Modernidade/Colonialidade (M/C), a partir de sua ruptura com os estudos subalternos - latino-americanos e indianos - , culturais e pós-coloniais, no final dos anos 1990. O coletivo realizou um movimento epistemológico fundamental para a renovação crítica e utópica das ciências sociais na América Latina no século XXI: a radicalização do argumento pós-colonial no continente através da noção de "giro decolonial". O artigo está estruturado em duas partes. Em um primeiro momento, é traçada uma breve genealogia do pós-colonialismo. Posteriormente, apresenta-se a constituição do grupo M/C e alguns conceitos centrais criados e compartilhados pelos seus principais expoentes. O trabalho pretende convidar o(a) leitor(a) para este debate, ainda incipiente na ciência e teoria Política no Brasil.
Resumo: Especialmente a partir dos anos 1980, o encontro entre pós-colonialismo e feminismo trouxe importantes consequências práticas e teóricas para o entendimento da vida das mulheres sob o impacto - passado ou presente - do colonialismo. Uma das mais evidentes foi a geopolitização do debate feminista, inaugurado pela ideia de um feminismo terceiro-mundista e pós-colonial e que, atualmente, pode ser observado na tentativa de projetar um feminismo do sul e decolonial. O presente artigo possui dois objetivos teóricos principais: (a) demonstrar o antagonismo construído desde os anos 1980 entre o feminismo não ocidental e ocidental e (b) desenvolver um diálogo crítico com a versão contemporânea do feminismo decolonial latino-americano em relação à noção de colonialidade de gênero. Proponho a noção de "feminismos subalternos" para a compreensão de um movimento paradoxal: a construção dos feminismos outros só é possível quando eles se subalternizam em relação ao próprio feminismo moderno. Como consequência, evidencia-se a tensão entre o limite da fragmentação de diferenças irreconciliáveis e a necessária cosmopolitização da agenda feminista.
RESUMO O "giro decolonial" ao adaptar o argumento pós-colonial para a América Latina, compreende que a colonialidade é a face oculta e constitutiva da modernidade. Ao constatar criticamente que o problema do imperialismo é subdesenvolvido pelos seus principais teóricos, lanço as seguintes indagações: é possível pensar na relação entre colonialidade e modernidade, sem a dinâmica da "imperialidade"? Como explicar a reprodução das novas formas de colonialismo sem a consideração das novas formas de imperialismo? Neste artigo, assim, proponho o conceito de Imperialidade como uma lacuna que impede a explicação dos mecanismos de reprodução da colonialidade. Ao entendê-la como lógica do imperialismo, constitutiva e relacional da colonialidade, observo ainda que as estratégias de descolonização devem ser muito mais dirigidas à "Imperialidade" do que à modernidade propriamente dita. A informalidade, invisibilidade e nebulosidade dos mecanismos contemporâneos de Imperialidade reproduzem o imperialismo sem império através da governança sem governo no contexto global.
É com grande satisfação que lançamos este primeiro número da Revista Sul-Americana de Ciência Política (RSulACP), periódico quadrimestral, editado pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal de Pelotas, Brasil. A RSulACP tem como missão ser um vibrante veículo de divulgação científico-acadêmica, buscando enfocar seus dossiês em torno dos mais recentes debates da Ciência Política e das Relações Internacionais. Temos claro, no entanto, que tais áreas desenvolvem-se de forma mais criativa e mais preparadas à compreensão dos bruscos e rápidos acontecimentos contemporâneos se tiverem igualmente um constante olhar transdisciplinar, sobretudo direcionado aos demais campos das Humanidades. Neste sentido, serão sempre bemvindos trabalhos oriundos de estudiosos de todas as áreas e saberes das Ciências Humanas que dialoguem com os temas apresentados pelos dossiês da RSulACP